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sexta-feira, 18 de março de 2016

A propósito da decisão judicial sobe a Câmara do Comércio e dos conflitos entre a Federação de Futebol e o Governo guineense

Caros leitores, pretendo apresentar neste post dois exemplos (Braima Camará e Manuel Nascimento Lopes) que ilustram tanto a acumulação de cargos na Guiné-Bissau como a politização e partidarização de todos os sectores da sociedade guineense.

Como enquadramento a este texto, recordo aos meus leitores que existem duas alas com posições opostas dentro do PAIGC[1]. Nesta ordem de ideias, passo a apresentar dois exemplos que mostram como os problemas do partido-Estado PAIGC estão a afectar a sociedade guineense, espalhando-se como uma infecção, que se tem verificado em todos os sectores. Existem muitos outros exemplos de acumulação de cargos, em ambas as alas, mas estes exemplos servem apenas para apresentar o tema, uma vez que resultam de duas notícias actuais.
Em primeiro lugar, temos o exemplo de Braima Camará «Bá-Quekutô». O Tribunal Regional de Bissau considerou nulas todas as deliberações tomadas na Assembleia Geral da Câmara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços da Guiné-Bissau (CCIAS), realizada a 4 de Abril de 2015, e que elegeu o Empresário Braima Camará como seu Presidente para um segundo mandato. Na sequência desta eleição, foi criada uma nova Câmara de Comércio (CDC-GB), por iniciativa de membros descontentes com a situação na CCIAS. Perante esta decisão por parte do Tribunal Regional de Bissau, devemos questionar-nos qual é o efeito desta anulação face à criação da nova Câmara de Comércio. Apesar da violência e das perturbações na eleição de Braima Camará, na altura, o escrutínio foi considerado justo e transparente. E hoje, passado quase um ano, em que ficamos? O que motivou esta reviravolta? Importa assinalar que Braima Camará é um dos 15 Deputados expulsos do PAIGC, e além de desempenhar as funções de Presidente da Assembleia Geral da CCIAS, é Conselheiro de Estado, Membro do Bureau Político do PAIGC, para além de Empresário e Presidente de um clube desportivo(ANG, 10-03-2016; Gazeta de Notícias, 11-12-2015).
Em segundo lugar, temos o exemplo de Manuel Nascimento Lopes «Manelinho», que é também um dos 15 Deputados expulsos do PAIGC, Empresário e Presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB). Por um lado, o Governo guineense, representado por Conduto de Pina, Secretário de Estado do Desporto da Guiné-Bissau, acusa a FFGB de irresponsabilidade e esbanjamento, ameaçando retirar a esta entidade o seu estatuto de utilidade pública. Conduto de Pina acusou de forma implícita o Presidente da FFGB, Manuel Nascimento Lopes, de, ao invés de gerir a instituição, “passar a vida a insultar o Governo” (Sapo Notícias, 11-03-2016). Por outro lado, a FFGB suspendeu o campeonato devido à falta de dinheiro. A suspensão do campeonato acontece numa altura em que o Sporting é líder, com 17 pontos, mais 3 do que o Benfica que segue na segunda posição (A Bola,11-03-2016). Vale a pena perguntar, uma vez que a eleição de Manelinho para o seu cargo também foi polémica, como seriam as coisas se as relações destes 15 Deputados com o PAIGC não tivessem degenerado? Se os contestatários solicitassem a anulação da eleição de Manelinho para a presidência da FFGB, será que também seria anulada, como aconteceu com Braima Camará?
Perante estes factos, parece-me evidente que a acumulação de cargos é um dos grandes problemas que afectam a sociedade guineense. Além disso, no modelo político em vigor, existe uma falta de clarificação sobre o papel de cada órgão e instituição, o que resulta, inevitavelmente, em conflitos sem solução. No meu entender, todos os sectores públicos e privados da Guiné-Bissau estão politizados e partidarizados pelo partido-Estado PAIGC. É nesta perspectiva que emerge a necessidade de pedir um divórcio definitivo, derivado da dependência política entre os órgãos superiores do Estado e também de outras instituições, visto que, ao longo dos anos o ambiente político entre eles tem sido de grande instabilidade política (Mendes, 2010: 92, 93).
Relativamente à acumulação de cargos, poderia ser resolvida através da criação de um órgão que proponho no modelo apresentado no meu livro – a Áreas de Estudos – Órgão Consultivo Multidisciplinar Imparcial (AE-OCMI). Este órgão teria a seu cargo a função de examinar junto dos serviços públicos casos de funcionários com dois ou mais empregos, para proceder de imediato à escolha de um dos empregos por parte do funcionário, no sentido de permitir o acesso ao emprego por parte de um maior número de pessoas (Hunter, 2004: 33; Mendes, 2010: 93).
Finalmente, uma das soluções mais urgentes passa pela reforma/modernização da política, com destaque para o PAIGC e pela profunda mudança de mentalidades (o que exige um investimento forte na educação).
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 474, 531-532). Lisboa: Chiado Editora.




[1] Há, por um lado, a “ala pró-DSP (Domingos Simões Pereira)” que é uma “reencarnação”  do ex-Primeiro-Ministro «ex-PM» Carlos Domingos Gomes Júnior «Cadogo Jr.». E está explícito que esta ala pró-DSP, o Governo do PM Carlos Correia e do Presidente de Assembleia Nacional Popular «ANP» Cipriano Cassamá (com a esmagadora maioria dos Deputados do PAIGC) estão em consonância. E, por outro lado, há a “ala pró-Jomav (José Mário Vaz)” que está a tentar corrigir as falhas dos ex-Presidentes da República «ex-PR» João Bernardo Nino Vieira e Malam Bacai Sanhá. E está implícito que Jomav, o Partido da Renovação Social «PRS» e os 15 Deputados expulsos do PAIGC estão também em consonância. Se DSP pretende uma solução que passa pela realização de novas eleições para consolidar o seu Poder, Jomav quer evitar tudo o que possa engrandecer e aumentar o carisma de DSP. Mais informações no post anterior.

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